segunda-feira, 30 de abril de 2012

A escravidão que vem da riqueza ou de sua busca

"Aqueles que afirmam o mais puro direito, e são, conseqüentemente, mais perigosos  para um Estado corrupto, normalmente não passaram muito tempo a acumular propriedades. A esses o Estado presta, comparativamente, pouco serviço, e um pequeno imposto costuma ser visto como exorbitante, particularmente se são obrigados a ganhá-lo com suas próprias mãos.

Se houvesse alguém que pudesse viver inteiramente sem o uso do dinheiro, o próprio Estado hesitaria em exigir-lhe pagamento. Mas o homem rico - sem querer fazer nenhuma comparação invejosa - está sempre vendido à instituição que o faz rico. Falando em termos absolutos, quanto mais dinheiro, menos virtude, pois o dinheiro se interpõe entre um homem e seus objetivos, e os obtém para ele, e certamente não há grande virtude em fazê-lo. O dinheiro abafa muitas questões que, de outro modo, este homem seria levado a responder, ao mesmo tempo em que a única nova questão que propõe é a difícil, embora supérflua, questão de saber como gastá-lo.

Assim, seu fundamento moral lhe é retirado de sob os pés. As oportunidades de viver diminuem na proporção em que aumenta o que se chama de 'meios'. O melhor que um homem pode fazer por sua cultura, quando enriquece, é tentar pôr em prática os planos que concebeu quando pobre".

Thoreau escreveu isso em 1849. A única coisa que eu gostaria de saber é o que resta àqueles que já nasceram ricos. Aos demais, a massa, aos que nasceram pobres e assim permanecerão até morrer, conta-nos a História, há pouca ou nenhuma esperança.

Com efeito, o populacho não quer saber de depor o rei, pois ele simboliza o lugar porvir que nunca virá, aquele que alimenta o sonho do populacho, mesmo que ele morra sonhando esse sonho como costuma acontecer, anestesiando-se nas novelas do Manoel Carlos com o luxo burguês da zona sul carioca que projeta para si, mas que jamais em sua vida experienciará disso algo além do que os serviços que a cozinha, a área de limpeza ou os banheiros lhe oferecem. Das estantes apinadas de livros limpar-se-á o pó, e só.

Mas ninguém quer saber de depor o rei e queimar o trono para sempre. No máximo, sonha-se em ser tão déspota quanto ele, tão "notório" ao ponto de precisar de um segurança a tiracolo até na hora de ir cagar.

Brizola Neto, 33 anos, novo Ministro do Trabalho

Não consigo entender: eu tenho 33 anos e ainda acho que não sei nada da vida. Como pode um moleque desses ser alçado ao cargo de ministro do trabalho? Como eu disse, eu não sei de nada, mas posso supor.

O PDT está na base governista. Estar na base do governo significa conferir-lhe poder dentro do sistemão, prostituindo alguma pasta ou secretaria do poder executivo, por exemplo. É um dos caminhos mais fáceis. Como o trabalhismo sempre foi a principal bandeira do PDT, a obviedade entregou o Ministério do Trabalho a este partido que sobrevive em cima do mito de um lunático e senil falecido em 2004, que quase fez Porto Alegre desaparecer do mapa em 1961 com a campanha da legalidade. Ação heróica? Até pode ser, mas como os porta-aviões do tio san desistiram no meio do caminho de bombardear a cidade onde meus pais e eu nascemos e vivemos, eu estou aqui pra escrever esse post. Detalhe: a rigor a campanha da legalidade assegurava a manutenção do seu cunhado no poder e a rigor também, pouco adiantou, porque menos de três anos depois os milicos tomaram tudo de assalto e ficou por assim mesmo até 1984! O que valeu a pena mesmo, mostra a História hoje, foi ter perpetuado esse clã no poder. Mais um deles...

Esse moleque, como eu também sou, trata-se de mais um deputadozinho que dá prosseguimento aos clãs familiares na política (suplente, pois não se elegeu em 2010, entrando na vaga de outro picareta qualquer). Foi escolhido a dedo por Carlos Lupi, presidente nacional do PDT e ex-ministro do trabalho que pedira demissão em dezembro passado após uma sequência de denúncias envolvendo o MT. Na hora de escolher um substituto o que a nossa presidenta faz? Reúne-se com o próprio Lupi-corrupto que indicou o rapaz (!!!), aliás, que em seu blog confessa que, aos 16 anos, começou a "trabalhar" como secretário do avô no governo do RJ!

Ou Brizola Neto trata-se de um dos políticos mais precoces e brilhantes da história da nossa república ou, graças ao vovôzete, começou a mamar na tetinha bem cedinho.

Mas o que mais me incomoda é o sobrenome. A reprodutividade. Isto é phoda de engolir!

* A foto** é de quando o político venceu o campeonato de surf Osklen Surfing Arpoador Clássico, categoria Open, em agosto de 2011, o que também mostra a sua precocidade, já que durante a adolescência ele não podia surfar e treinar, pois tinha que cumprir expediente no gabinete do avô.
** Parece que essa foto é a do irmão ou o que seja, mas como é do mesmo clã brizolístico, tanto faz. Daqui a pouco esse daí que é vereador no RJ vira ministro do esporte ou coisa parecida, então, já fica com o nariz de palhaço desde já!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O início do fim das florestas

Reproduzindo o texto disponível na página do Greenpeace sobre o último post:

"Ontem (25/04) a Câmara dos Deputados mostrou o que quer: o fim das florestas no Brasil. Por 274 votos a 184, com duas abstenções, foi aprovada hoje a proposta que desfigura o Código Florestal, escrita pelo deputado ruralista Paulo Piau (PMDB-MG) sobre o texto aprovado pelo Senado, segue agora para sanção da presidente, Dilma Rousseff. Se ela não se mexer, e vetar o texto, esse futuro será seu legado.
O texto aprovado dá anistia total e irrestrita a quem desmatou demais – mesmo aqueles que deveriam e têm capacidade de recuperar matas ao longo de rios, por exemplo – e ainda dá brecha para que mais desmatamentos ocorram no país. Ele é resultado de um processo que alijou a sociedade, e vai contra o que o próprio governo desejava. Com isso, avanços ambientais conquistados ao longo de décadas foram por água abaixo”.

Água abaixo deveria ir o agrobusiness. Um salve à agricultura tradicional e familiar. Outro para as fontes alternativas de energia. Que os ruralistas malévolos e toda a sua corja queimem junto com as florestas que insistem em dizimar!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Código Florestal em uma palavra: NÃO!

A nefasta reedição do Código Florestal Brasileiro que está sendo enfiada goela abaixo da gente somente não saiu de pauta ainda porque, dentre outras coisas, a opinião pública ainda não se calou. Se aprovado, cairá no esquecimento da mesma com o tempo e com isso sairá da pauta comum. As coisas são assim. Eu mesmo já perdi as contas de quantas petições online contra o mesmo eu já assinei, de quantas notícias que o rechaçam já li e compartilhei, de quantas discussões e manifestações virtuais e materiais já presenciei. Com a questão Belo Monte a medida não é diferente. Para dizer o mínimo, minha sensação diante de tudo isso é de absoluta incredulidade. Sofro de uma tristeza e de uma revolta aguda sempre que escuto esses dois nomes: Código Florestal e Belo Monte. Sinto vergonha por também ser um ser humano.

Hoje, às 11h, mais um capítulo desta triste novela chamada Código Florestal entrará no ar, quando o Congresso retomará a análise da reforma ambiental. Anotem esse nome: Paulo Piau (PMDB-MG), enviado das trevas e relator do processo, que se mostrou irredutível a qualquer alteração em seu relatório pernicioso sobre o Código, em questões tais como a de incluir no texto a proibição de anistia a desmatadores, por exemplo. O Código Florestal é criminoso. Isto deve explicar a escolha para sua relatoria deste deputado que recebeu de grandes produtores rurais 990 mil reais em doações para a sua campanha, 47% do total declarado. Deve ter sido mais, mas o único número preciso nessa conta é o da ética: Zero! O negócio é na cara-dura mesmo. Noticiaram que a base deverá pedir a cabeça dele, mas será que isso resolve alguma coisa?

A bancada ruralista é tida como a de maior força política dentro do Congresso brasileiro desde que ele foi criado. Eu diria que essa é a maior força política daqui desde a época colonial. Aí está um inimigo difícil, a luta é árdua mesmo, por isso é preciso não soçobrar, não se calar, não desistir. Essa questão só tem um partido, o de Gaia, da Mãe Terra. Infelizmente são partidos de outra natureza aqueles que têm o poder de decidir por Ela. Como deixamos isso acontecer?

terça-feira, 24 de abril de 2012

Cine-Guerrilha: Capitães da Areia


Essa parece ser uma eterna discussão, mas acho que obras literárias com estatuto de "eternas" merecem sim adaptações para outros estilos, especialmente para o cinema. Esta é uma maneira eficiente de difundi-la ao grande público brasileiro que infelizmente - e estatisticamente, pouco lê. Naturalmente, tratando-se de outra mídia, como o cinema, libelos literários estarão sempre à mercê de reducionismos e interpretações nem sempre adequadas advindas da própria diferença de linguagem, dos roteiros, das edições, ritmos de narrativa, atuações, etc, etc.

"Capitães de Areia", publicado por Jorge Amado pouco após a implantação do Estado Novo, em 1937, tratava-se de uma obra libertária, que teve centenas de exemplares queimados pelo governo em praça pública de Salvador. Alegaram que a obra se tratava de propaganda comunista explícita, o que era verdade. Contudo, o que talvez tenha incomodado mais os facínoras censores da época foi ter de encarar o contraste magistralmente realista retratado no livro entre o projetão de modernização do Estado e a vida miserável que assolava as grandes cidades brasileiras,  a pobreza da vida e a riqueza das almas que emergem dos cenários mais caóticos como a dos meninos de rua da Salvador da década de 1930. No livro, a comuna de guris abandonados e desobedientes civis é enredada em diversas histórias onde a trupe de personagens apaixonantes representam cada qual jovens estereótipos de futuros adultos frutos desta época confusa da história do país: o revolucionário, o gigolô, o malandro, o cangaceiro, o mártir, o doente, o artista, o inconformado.

Na adaptação para o cinema que estreou no final de 2011, a neta de Amado resolveu homenagear o centenário de nascimento do avô dirigindo esta adaptação para o cinema. É evidente que eu gostaria de ver a questão social e a luta de classes que o livro mostra através do idealismo de Pedro Bala, o jovem líder dos capitães da areia, aparecer com mais força na película, e inclusive nos olhos do ator que o interpreta, o que é justo em se tratando da proposta de formação do elenco com atores amadores escolhidos a dedo de comunidades carentes, onde ao se ganhar uma fidedignidade estereotipada maior dos personagens (malgrado Bala não ser loiro no filme como retratado no livro, talvez propositalmente para reforçar os mencionados estereótipos) pode se perder e muito em dramaticidade interpretativa. Por outro lado, o amor e o respeito existente entre Dora, Bala e Professor é tratado de forma sensível ao que senti lendo o livro.

Paixões e desejos pessoais à parte, não vou me alongar porque já escrevi que acho as adaptações de grandes livros para o cinema sempre válidas, exceto quando avacalham geral com a história, o que não é o caso aqui. O negócio é que talvez exista uma ou duas mentes jovens plugadas - portanto, representantes típicas dessa pós-modernidade chapante e alienante, que ao verem o filme desejem ler o livro. Isto por si só faria valer a pena a existência dessa adaptação dirigida por Amado, mesmo que pouco politizada se comparada com uma história que chegou a ser digna da fogueira inquisitorial em 1937. Despolitização talvez de desejo do próprio avô quando, ainda em vida e claramente senil, distanciou-se do comunismo e do modelo libertário que tanto influenciaram o conjunto de sua obra para flertar com o também já finado Coronel ACM.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

A imagem da Copa de 2014 hoje

Estádios e demais elefantes brancos em ritmo lento? Obras viárias e urbanas que ainda nem saíram do papel? Superfaturamentos horripilantes? Briguinha ególatra entre FIFA e Governo? Mano Menezes? Que nada...

Para mim esta é a imagem que melhor representa a Copa de 2014 neste momento cosmológico da realidade: um inexorável malandro como o sedimento ético do processo e o seu maior bem-feitor, doente.

Ainda bem que o nosso escrete vai de vento em popa...

Dicionário de Guerrilha: "liberdade"

"Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, ou como a semente do trigo, e a sua morada será sempre o coração do homem", Thiago de Mello, Estatutos do Homem.

Reminiscências de 1º de Abril

O MPF tenta, a Comissão da Verdade tenta, mas é difícil enquadrar esses milicos genocidas de nosso passado recente que inclusive já estão desfrutando de suas pompudas aposentadorias pagas pelo povo a quem tanto dano causaram, quando o próprio Estado permanece lhes protegendo, como no caso do STF. Cada vez mais concordo com a máxima de Derrida de que "lei não é sinônimo de justiça". E ainda por cima batizam rios, pontes e overdrives, ruas, escolas e repartições com os seus nomes, quando mais deveriam batizar cemitérios, latrinas e bueiros de esgoto.

Literatura de Guerrilha (Para ler nas trincheiras)


Tenho lido mais do que escrito nestes últimos tempos, ausentando-me conscientemente dos assuntos ordinários do mundo. Desta forma, aproveito o momento para indicar-lhes (e assim espero estar divulgando a obra) os livros do escritor brasiliense Ezio Flavio Bazzo. Em algum momento anterior postei uma passagem de um de seus livros.


Trata-se de uma literatura autônoma, que expressa justamente aquilo que a humanidade tem de mais valioso e de mais censurado e contido, difícil de expressar: o pensamento autônomo. Aí reside o valor maior de sua obra, em torno de uns 20 livros e ensaios publicados.

Pensei em falar sobre isso, pois encontrei o autor casualmente na rua numa tarde dessas qualquer. Desde que me mudei - saí e retornei - para a Babilônia do Cerrado, conheci seus livros publicados artesanalmente por acaso, na mesa de um boteco que não lembro mais o nome. Aliás, a melhor maneira de encontrar estes e outros trabalhos é com o ilustre vendedor de livros Faraó, que atende (circula) ocasionalmente pelos bares noturnos de Brasília, especialmente na Asa Norte. Tem algumas coisas na Livraria Cultura, mas somente a obra mais recente ou reedições sob o julgo inevitável do mercado editorial que fazem perder um pouco a consagração de relíquia que possuem as obras originais, editadas pelo próprio autor sob a "tutela" de editoras fictícias sensacionais. Você que está em Brasília evite a Livraria Cultura. Fale com o Faraó, que possui o acervo completo. Esse seria um excelente ante-passo para iniciar-se na obra de Ezio.



Divulgue. Propague. Comente a literatura e quaisquer outras manifestações de conteúdo libertário. Um livro de 20 reais é melhor presente do que um pacote de cuecas. O primeiro pode libertar. As cuecas, por sua parte, foram criadas justamente para fazer o oposto.

O Eterno Retorno

Pessoas,

faz mais de um ano desde a última vez que nos dirigimos a vocês em tom de despedida de funeral, daquele tipo que deveria durar para sempre. De minha parte, se de lá para cá estive sem tempo para escrever num blog, hoje estou sem desculpas*.

Volta-e-meia entro aqui e vejo que temos um fluxo razoável de interessadxs, inclusive alguns tecendo comentários que são todos sempre muito bem-recebidos, mesmo os mais ofensivos ou ameaçadores. Saibam que na pior das hipóteses eles estão servindo para afagar ou ampliar consciências, o que por si só autorizaria a sua publicidade. Aliás, moderamos aos mesmos justamente por causa dos spans publicitários e demônios similares.

Na verdade, eu estou cagando pra qualquer tipo de polêmica. Escrevo para desabafar. Vocês tem um mar de possibilidades virtuais a um clique do dedo, não precisam ler este blog. Quem se importar muito com alguma coisa escrita aqui ou com qualquer outra merda que abra o seu próprio blog para difundir a sua ideia e/ou terapeutizar-se, como eu faço. É de graça e tem várias opções no google.

Trato desse assunto, confesso, especialmente em respeito aos que nos odeiam, porque voltarei a escrever por aqui. Aos que já gostavam dos Guerrilheiros, sei que a eles não preciso justificar coisa nenhuma, porque eles também estão cagando para isso.

Éramos dois a escrever. Eu seguirei daqui. Espero que o Escapista reestimule-se. De vez em quando eu prenderei o grito da trincheira, caminharei pelos batuques.

Abraços,
Sniper

* não que a minha percepção de desperdício de vida tenha mudado com relação ao tempo que perdemos trabalhando em coisas que nos iludem a acreditar que precisamos realmente fazer, pois que nos integrarão a contento (mas nunca plenamente) numa sociedade nacional como ela idealmente se pretende: capitalista, branca, heterossexual, monoteísta, bem-sucedida material e familiarmente, etc, etc, e como se de fato seja este o modelo de cruzada edenista terráquea a se perseguir.