Distrito 9 é um filme que, acredito, dará o que falar. Se não der, deveria! A ficção científica que retrata a segregação em solo sul-africano de aliens que se viram perdidos em nosso Planeta é inquietante e reveladoramente realista. Os aliens, conhecidos pejorativamente por "camarões", e mais parecidos com baratas que chafurdam nos lixões da favela, causam a mesma piedade em nós humanos que sua "semelhante" terráquea. A medida que a trama se desenrola e a "humanização" dos camarões descortina as metáforas contidas na história, o gênero da ficção científica conseguiu se reatualizar, revelando uma sociologia do absurdo pra lá de "humana".
A estética que banaliza a violência importada da mídia dos video-games a qual o diretor (Neill Blomkamp) conhece bem do (violentíssimo) jogo Halo, não chega a comprometer um filme que, malgrado seu teor "político" que repercute as reflexões de um diretor sul-africano da elite branca sobre a sua própria realidade ainda deveras segregadora (quase um mea culpa, por assim dizer), jamais poderá ser retirado da prateleira de blockbusters, com suas explosões e incoerências narrativas peculiares.
Inquietações como a possibilidade de submissão de criaturas tão inteligentes e com acesso a armas mais potentes dos que as de seus dominadores (os "humanos brancos" e os "quase-humanos nigerianos") acabam ofuscadas diante de sua precisão técnica, esta impecável dentro de sua proposta "documental" importada do léxico publicitário, também caro ao diretor deste filme e de campanhas como a dos "transformes" da Citroën. Neste mundo ditado pelo ritmo e pelas equações do mercado, o mérito do filme pode acabar sendo injustamente mensurado pelo seu custo de produção (30 milhões de verdinhas), algo realmente notável pelo resultado que mesmo o telespectador mais alheio ao gênero pode admirar. Mas há mais a se notar neste "blockbuster" diferente, de conteúdo profundo que tem muito a nos dizer sobre a natureza humana e os limites imensuráveis de sua insensatez.