Lendo o relatório, descubro que seis obras originais foram excluídas, por não haver previsão que sejam concluídas até o Mundial. Alívio? Que nada! Outras oito foram incluídas, e com orçamento maior que as anteriores. Hoje nem tocarei no assunto das obras viárias e quetais. Ficarei no caso exemplar dos estádios.
A atualização do custo de alguns estádios assusta tanto que faz o Jason parecer personagem do Cartoon Network. Vejamos três casos.
Maracanã, R$ 808,4 milhões! Uma fortuna em dinheiro público que o país está oferecendo ao povo do Rio de Janeiro e aos seus clubes. Ok, faz parte, trata-se de um estádio público, símbolo de muitas coisas etc. Mas, se o mundo fosse justo, o libelo deveria ser bancado pela grana que compete ao Estado do Rio de Janeiro, sua população e recursos, tal é a verdade. Exagero? Dividir ônus é barbada, mas quando é para se dividir os bônus, como é que fica? Então, pergunte o que os fluminenses pensam sobre a divisão com o resto do país dos royalties do pré-sal. Pergunte quais são os argumentos do RJ e de seus deputados. Depois, pague faceiro a conta da "reforma" do Maraca!
Lulão, ou, Arena do Corinthians, R$ 820 milhões. Desde que esta maracutaia saiu do papel, ouço por aí um sem-número de explicações e mentiras que tentam confundir e afastar a opinião pública da verdade incontestável: um ex-presidente do país (então ainda manda-chuva mor) deu um jeito para levantar com muita grana pública, mas muita mesmo, um estádio privado para o clube que é torcedor! Ou não?
Estádio Nacional, ou Mané Garrincha, de Brasília, R$ 1,015 bilhão! Isto mesmo, BI-LHÃO! Grana inteiramente pública, para uma cidade que só sabe torcer para clubes do Rio e de São Paulo. O Gama e o Brasiliense, por exemplo, os dois clubes com alguma, ainda que mixórdia projeção, possuem estádios próprios. Quando avaliamos o orçamento, temos ali um descarado esquema de corrupção: o custo inicial era de já cabulosos R$ 812,5 milhões. Mas aí, recentemente, o GDF informou que o aumento se deu em função da inclusão de itens que foram licitados separadamente, como a cobertura, as cadeiras, o placar eletrônico e o gramado. Claro, alguém duvida que tais itens não teriam sido cotejados no orçamento básico de um estádio de futebol? Por favor, é de doer...
Nem estou falando de estádios diretamente fruto de oportunidades mil para os súcias de plantão, como o de Manaus, o de Cuiabá ou o de Natal. Poderia ser diferente? Não no Brasil. Vivo em um Estado que possui dois clubes grandes, ambos estão ocupados com seus novos estádios, frutos de financiamentos próprios e arranjos particulares com empreiteiras, com o custo de ambos sendo bem inferior aos elefantes que teremos por aí. Podemos até discutir esses acordos, contestar ou reclamar disso ou daquilo, mas estamos falando de recursos próprios. Neste caso não se está desprovendo o Estado de grana para a saúde ou para a educação, por exemplo. E isto é de fazer pensar, pois sempre existem possibilidades fora do arranjo vil.
"Não entendo como um estádio no Brasil precisa custar R$ 500 milhões enquanto há exemplos de estádios construídos em outras partes do mundo com 40 ou 50 mil lugares que custaram menos da metade", afirmou, meses atrás, o auditor Amir Somoggi, da área de consultoria esportiva de uma empresa especializada.
Pois é fácil de entender: estamos no Brasil, na terra das oportunidades. Por aqui, o interesse privado subjaz o público, tudo se confunde, para o bem dos mais sagazes. Seguindo a lógica antropológica carioca de divisão do mundo, ou você é malandro, ou você é mané!
Eu sou mais um mané. E viva o Brasil.