quarta-feira, 3 de julho de 2013

As recentes revoltas no Brasil, algumas palavras


Os Guerrilheiros do Planalto oferecem total apoio aos levantes populares que tomaram conta do Brasil precipitados pela revisão das tarifas do transporte público, mas que, ao longo dos últimos tempos, teve acrescida uma série de justas revindicações pela ampliação dos direitos sociais e econômicos da população brasileira.

Vivemos em um país rico, de população pobre. O adágio é verdadeiro. Claro que, enquanto ainda tivermos miseráveis, ainda teremos uma população de miseráveis. Mas este número tem mudado nos últimos anos, e alguns dados são de fato significativos (estima-se que 30 milhões de brasileiros tenham saído da miséria no último decênio). Entretanto, nossa carga tributária está entre as maiores do mundo, em contrapartida, nossos serviços públicos não são retornados à população em medida sequer aceitável. O povo quer mais, mesmo não sabendo exatamente o que isto significa.

Trata-se de uma verdadeira "irrupção do real", no sentido lacaniano, conforme li dia desses nalgum lugar. É verdade: o "padrão fifa" para se referir à excelência foi paulatinamente apropriado pela população brasileira de forma a tomar um novo significado, que pode de alguma forma sintetizar o teor das revindicações: o povo deseja um governo padrão fifa, que lhe garanta, naquilo que lhe compete, uma vida padrão fifa!

Esta revindicação típica da classe média, que, com sua força, quando deseja, se faz ouvir, em nada retira espaço do combate à pobreza absoluta ou de qualquer outro tipo que ainda perdura no Brasil. Quer dizer, combater o "empobrecimento" não exime o combate à pobreza em si. Nem retira espaço da ampliação da cidadania como um todo.

Mas a irrupção do real também ecoa as atuais práticas governamentais (e não políticas, porque, afinal, o texto sempre está escrito direitinho) para lidar com os direitos humanos. Não me refiro propriamente à truculência da polícia aqui e ali junto aos manifestantes mais pacíficos ou mais desregrados, ou ao desregramento em si (guardamos nossos juízos de valor para os demônios e corruptos, e não para os ingênuos e precipitados), mas antes à intolerância que o governo demonstra há algum tempo ao aplicar a qualquer custo o seu PAC junto a comunidades tradicionais, muitas delas vislumbrando inclusive a retomada do processo de extinção sistemático a que são submetidas historicamente. Capítulo que se renova nos tempos de hoje sob a égide deste governo "inclusivo e democrático". Um contrassenso, convenhamos.

Saudamos as novas trincheiras e nos somamos a elas, de corpo, alma e palavra. Desejamos sabedoria à guerrilha, a nós mesmos. A mensagem deve ser transmitida de forma contundente, mas producente. A violência nem sempre é uma escolha necessária, quando ainda é possível a aplicação de pedagogias mais construtivas, o que parece ser o caso deste momento. Que o governo sintonize esta frequência o quanto antes, como tem demonstrado desejar fazer. E que tal sintonia não se resuma em responder dignamente apenas às revindicações que aparecem na grande mídia. Estamos sempre atentos a tudo: você governo, não consegue nos enganar por muito tempo, lembre-se disto.

O processo é importante. Os governos, qual seja, devem sempre se cagar de medo da sua população, e fazer as coisas direitinho. Do contrário, o bicho pega! Não sei de todo o mundo, mas por aqui, pelo visto, o povo não é assim tão imbecil!

AVANTE BRASIL!!