terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Ho-Ho-Ho: Sobre Perus e outros quetais animais

A espécie humana é apenas uma entre milhões de outras formas de vida belas, terríveis, fascinantes e significantes. Não obstante, os não humanos continuam, indiferentemente, a ser explorados, comidos, sodomizados, objetos de experimentação e cativos para o entretenimento humano. Aos recentes questionamentos que vêm sendo levantados sobre esse estado de coisas, a resposta de alguns convoca a um pluralismo étnico pós-moderno segundo o qual dar lugar à alteridade animal não significa abandonar a razão em nome de um vago respeito a algum inefável outro, mas, sim, chegar ao outro por meio de uma ética que não se confunde com uma ética normativa sobre o direito dos animais. Quando bem feita, a consciência eventualmente descobrirá que a alteridade animal não se define pelo pertencimento a um mundo lá fora totalmente estrangeiro, mas constitui-se em uma radical diferença e alteridade que estruturam o humano em seu próprio cerne.

Então, um Feliz Natal Animal pra quem gosta! E pro-raio-que-o-parta o presépio e toda aquela bagacera.

(O explorador de abismos, Derrida, Lacan, Bazzo e outros quetais humanos)

quarta-feira, 3 de julho de 2013

As recentes revoltas no Brasil, algumas palavras


Os Guerrilheiros do Planalto oferecem total apoio aos levantes populares que tomaram conta do Brasil precipitados pela revisão das tarifas do transporte público, mas que, ao longo dos últimos tempos, teve acrescida uma série de justas revindicações pela ampliação dos direitos sociais e econômicos da população brasileira.

Vivemos em um país rico, de população pobre. O adágio é verdadeiro. Claro que, enquanto ainda tivermos miseráveis, ainda teremos uma população de miseráveis. Mas este número tem mudado nos últimos anos, e alguns dados são de fato significativos (estima-se que 30 milhões de brasileiros tenham saído da miséria no último decênio). Entretanto, nossa carga tributária está entre as maiores do mundo, em contrapartida, nossos serviços públicos não são retornados à população em medida sequer aceitável. O povo quer mais, mesmo não sabendo exatamente o que isto significa.

Trata-se de uma verdadeira "irrupção do real", no sentido lacaniano, conforme li dia desses nalgum lugar. É verdade: o "padrão fifa" para se referir à excelência foi paulatinamente apropriado pela população brasileira de forma a tomar um novo significado, que pode de alguma forma sintetizar o teor das revindicações: o povo deseja um governo padrão fifa, que lhe garanta, naquilo que lhe compete, uma vida padrão fifa!

Esta revindicação típica da classe média, que, com sua força, quando deseja, se faz ouvir, em nada retira espaço do combate à pobreza absoluta ou de qualquer outro tipo que ainda perdura no Brasil. Quer dizer, combater o "empobrecimento" não exime o combate à pobreza em si. Nem retira espaço da ampliação da cidadania como um todo.

Mas a irrupção do real também ecoa as atuais práticas governamentais (e não políticas, porque, afinal, o texto sempre está escrito direitinho) para lidar com os direitos humanos. Não me refiro propriamente à truculência da polícia aqui e ali junto aos manifestantes mais pacíficos ou mais desregrados, ou ao desregramento em si (guardamos nossos juízos de valor para os demônios e corruptos, e não para os ingênuos e precipitados), mas antes à intolerância que o governo demonstra há algum tempo ao aplicar a qualquer custo o seu PAC junto a comunidades tradicionais, muitas delas vislumbrando inclusive a retomada do processo de extinção sistemático a que são submetidas historicamente. Capítulo que se renova nos tempos de hoje sob a égide deste governo "inclusivo e democrático". Um contrassenso, convenhamos.

Saudamos as novas trincheiras e nos somamos a elas, de corpo, alma e palavra. Desejamos sabedoria à guerrilha, a nós mesmos. A mensagem deve ser transmitida de forma contundente, mas producente. A violência nem sempre é uma escolha necessária, quando ainda é possível a aplicação de pedagogias mais construtivas, o que parece ser o caso deste momento. Que o governo sintonize esta frequência o quanto antes, como tem demonstrado desejar fazer. E que tal sintonia não se resuma em responder dignamente apenas às revindicações que aparecem na grande mídia. Estamos sempre atentos a tudo: você governo, não consegue nos enganar por muito tempo, lembre-se disto.

O processo é importante. Os governos, qual seja, devem sempre se cagar de medo da sua população, e fazer as coisas direitinho. Do contrário, o bicho pega! Não sei de todo o mundo, mas por aqui, pelo visto, o povo não é assim tão imbecil!

AVANTE BRASIL!!

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Mac'Asco (uma crônica sobre o McDonald's)


EU não como carne.

Ok, ok, sem hipocrisia. As vezes eu escorrego nuns camarõezinhos ou até mesmo num filé de peixe. Mas, daqueles bichos que nascem e vivem sobre a terra, não tem jeito. Acho que não merecem ser comidos e ponto. Sem mais.

Eu não nasci descarnívoro, é claro. Em nossa sociedade é assim. Portanto, mesmo não sendo lá muito fã, já frequentei o Mc'Donalds. Gostava de comer uns doze daqueles hambúrguers quando meu jovem metabolismo permitia que eu não me transmutasse em uma morsa ou coisa pior. Depois que entrei na faculdade, aprendi que o Mac era sinônimo de imperialismo e tal. Eu acreditava nisso, apesar de nunca entender porque a Pizza Hut não recebia a mesma ojeriza social, afinal, ela também se trata de uma multinacional ianque, que sub-remunera os seus funcionários e tal. Aliás, até a cor é a mesma. Mas, talvez por vender pizzas, o movimento punk (por aqui, sabidamente originado na terra das pizzas, São Paulo) preferiu voltar a sua ira para os hambúrguers, o que virou moda no início dos anos 1990 como sentido de uma espécie de contra-revolução adotada por outras bandeiras, ainda que sem nenhuma conotação vegetariana, diga-se de passagem.

Bem, dia desses eu saí de uma noitada junto com algumas pessoas que conheci naquela mesma noite. Em comum, pelo que fui percebendo, compartilhávamos apenas de uma fome descomunal. Aquela altura da manhã, alguém sugeriu que fossemos ao Mac 24h da Av. tal. Aquiesci sem pestanejar, intruso que eu era naquela situação. Chegamos a lanchonete e perguntei à atendente se eles vendiam alguma coisa de comer que não tivesse carne, já que as batatinhas não me apeteciam por conta do cheiro e da gordura borrachenta. Obviamente, primeiro tive que explicar que aves e peixes também faziam parte do reino animal. Assim, ela me sugeriu uma salada. Achei cara, mesmo assim a comprei e a desfrutei, o que, na verdade, só fez aumentar a minha fome. Voltei ao balcão, perguntei por alguma outra coisa. Sem sucesso. Perguntei se eles não podiam colocar um queijo, um tomate e um alface dentro de um pão, o que estaria de bom tamanho àquela altura. Sem sucesso, não estava no cardápio padronizado. Perguntei se ao menos eles vendiam MacBeer ou algo parecido, afinal, pão líquido também aplaca a fome às 5h da manhã. Sem sucesso. Aliás, desta vez a atendente se exaltou. Não a culpo. Trabalhar naquelas condições deve ser mesmo de se exasperar. Em resumo, fui convidado a me retirar do estabelecimento. Sem truculência, devo admitir. Uma pena. Se eu tivesse saído de lá aos safanões, ao menos teria motivo para reclamar, levantar a voz contra o imperialismo e tal. Não foi o caso.

Só tem uma coisa que eu não consigo relativizar: o cheiro. Que fedor insuportável de gordura, de podre ou o que seja. Curioso é que, no período em que eu ainda comia carne e frequentava esse lugar, eu jamais havia me importado com esse cheiro. Sequer o notava. Atualmente, atravesso a rua para não passar na frente dessas lanchonetes por conta do fedor. Acho que fiquei meio traumatizado.

Qual a moral dessa história? Não sei. Só sei que continuo preferindo pizzas.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Nova pegadinha do Lauro Trevisan


Volta-e-meia esses arautos que se aproveitam da credulidade alheia dão o seu ar da graça.

A última de um de seus expoentes mais picaretas foi a tentativa patética de auferir capitais econômicos e anímicos em cima de uma tragédia. Curto e grosso, tal é o resumo da nova obra de Lauro Trevisan, "Kiss - Uma porta para o céu".

Supostamente com o intuito de confortar as pessoas que estão sofrendo, além de reerguer o ânimo da cidade-palco da tragédia e de oferecer uma lição à humanidade, o libelo literário conseguiu, mais do que reinventar a estúpida idolatria que gira em torno de seu autor, despertar a ira de muitos familiares das vítimas da tragédia Kiss, em parte representados por sua associação, a AVTSM.

O outro lado da história, ou a patética entrevista tentando justificar o injustificável, pode ser lida no link:
http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2013/04/mas-procurar-por-que-diz-padre-lauro-sobre-nao-falar-com-familiares-do-incendio-da-kiss-4102818.html

Não entendo muito bem o porque dos posts deste blog, sobre este que nada mais é do que um entre tantos outros proselitistas apedeutas que temos por aí, despertarem tanto a atenção e indignação de seus "seguidores". Cá entre nós, acreditem no que quiserem, mas não nos encham o saco com as suas asneiras. Nós temos o direito de zoar de vocês, e vocês, de ficarem ofendidos. Afinal, não é o próprio Lauro quem defende conceitos como "liberdade" e "liberalidade"? Ah, façam-me o favor...