sexta-feira, 3 de maio de 2013
Mac'Asco (uma crônica sobre o McDonald's)
EU não como carne.
Ok, ok, sem hipocrisia. As vezes eu escorrego nuns camarõezinhos ou até mesmo num filé de peixe. Mas, daqueles bichos que nascem e vivem sobre a terra, não tem jeito. Acho que não merecem ser comidos e ponto. Sem mais.
Eu não nasci descarnívoro, é claro. Em nossa sociedade é assim. Portanto, mesmo não sendo lá muito fã, já frequentei o Mc'Donalds. Gostava de comer uns doze daqueles hambúrguers quando meu jovem metabolismo permitia que eu não me transmutasse em uma morsa ou coisa pior. Depois que entrei na faculdade, aprendi que o Mac era sinônimo de imperialismo e tal. Eu acreditava nisso, apesar de nunca entender porque a Pizza Hut não recebia a mesma ojeriza social, afinal, ela também se trata de uma multinacional ianque, que sub-remunera os seus funcionários e tal. Aliás, até a cor é a mesma. Mas, talvez por vender pizzas, o movimento punk (por aqui, sabidamente originado na terra das pizzas, São Paulo) preferiu voltar a sua ira para os hambúrguers, o que virou moda no início dos anos 1990 como sentido de uma espécie de contra-revolução adotada por outras bandeiras, ainda que sem nenhuma conotação vegetariana, diga-se de passagem.
Bem, dia desses eu saí de uma noitada junto com algumas pessoas que conheci naquela mesma noite. Em comum, pelo que fui percebendo, compartilhávamos apenas de uma fome descomunal. Aquela altura da manhã, alguém sugeriu que fossemos ao Mac 24h da Av. tal. Aquiesci sem pestanejar, intruso que eu era naquela situação. Chegamos a lanchonete e perguntei à atendente se eles vendiam alguma coisa de comer que não tivesse carne, já que as batatinhas não me apeteciam por conta do cheiro e da gordura borrachenta. Obviamente, primeiro tive que explicar que aves e peixes também faziam parte do reino animal. Assim, ela me sugeriu uma salada. Achei cara, mesmo assim a comprei e a desfrutei, o que, na verdade, só fez aumentar a minha fome. Voltei ao balcão, perguntei por alguma outra coisa. Sem sucesso. Perguntei se eles não podiam colocar um queijo, um tomate e um alface dentro de um pão, o que estaria de bom tamanho àquela altura. Sem sucesso, não estava no cardápio padronizado. Perguntei se ao menos eles vendiam MacBeer ou algo parecido, afinal, pão líquido também aplaca a fome às 5h da manhã. Sem sucesso. Aliás, desta vez a atendente se exaltou. Não a culpo. Trabalhar naquelas condições deve ser mesmo de se exasperar. Em resumo, fui convidado a me retirar do estabelecimento. Sem truculência, devo admitir. Uma pena. Se eu tivesse saído de lá aos safanões, ao menos teria motivo para reclamar, levantar a voz contra o imperialismo e tal. Não foi o caso.
Só tem uma coisa que eu não consigo relativizar: o cheiro. Que fedor insuportável de gordura, de podre ou o que seja. Curioso é que, no período em que eu ainda comia carne e frequentava esse lugar, eu jamais havia me importado com esse cheiro. Sequer o notava. Atualmente, atravesso a rua para não passar na frente dessas lanchonetes por conta do fedor. Acho que fiquei meio traumatizado.
Qual a moral dessa história? Não sei. Só sei que continuo preferindo pizzas.
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