sexta-feira, 22 de junho de 2012
Paraguai, a culpa também é nossa
Neste exato momento o Congresso Nacional paraguaio está decidindo se destrona o presidente Fernando Lugo do poder. Eu preferi não esperar pelo desfecho, que deverá ocorrer nas próximas horas, porque acho que o destino de Lugo já está selado. Desde pelo menos 2009 a bancada ruralista no país tenta depor um presidente que, dentre outras coisas, acirrou o debate a favor da reforma agrária e contra os deputados latifundiários que sustentam o modelo oligárquico do país. Diga-se de passagem, deputados esses que não são poucos.
A gota d'água ao novo levante golpista (leia-se "desculpa mais atual") teria sido o resultado de uma ação da polícia contra camponeses que resultou na morte de sete policiais e oito manifestantes que culminaram no entendimento daquelas elites de que o presidente gerenciaria pifiamente o país, sendo que os números da economia nacional corroborariam a suposta má gestão. Mentira. Os números mostram sim razoável crescimento nos últimos anos na gestão de Lugo: o salário mínimo paraguaio, por exemplo, é maior do que o brasileiro numa conversão básica entre as moedas (cerca de R$ 660,00), algo admirável se compararmos o incomparável que é a economia dos dois países.
Aliás, acho que o Brasil possui uma terrível dívida história com o nosso vizinho guarani. Escrevi no outro post que os deuses adoram usar os mortais como marionetes para impetrar os seus desejos. Bueno, no século XIX, a deusa maior da terra respondia pelo nome de Grã-Bretanha. A deusa não gostou quando uma nação de indígenas educados não se curvou aos seus interesses comerciais na região e assim mobilizou os seus súditos locais contra tamanha afronta. Nós, juntamente com nossos co-irmãos do Prata, literalmente dizimamos o Paraguai num conflito que durou pouco mais de cinco anos, entre 1864-1870. Resultado: junto com nossos amigos e a contento da deusa, naquela ocasião roubamos 40% do então território paraguaio, dizimamos 97% da população economicamente ativa do país (na época, homens entre 13 e 70 anos) e ainda obrigamos os paraguaios a pagar-nos uma pesada indenização até o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Deu no que deu, um país que carrega atualmente a imagem de viver de contrabandos e do plantio de maconha.
Está mais do que na hora dos brasileiros se interessarem mais por assuntos paraguaios que ultrapassem os produtos contrabandeados, a maconha ou os peitos da Larissa Riquelme.
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