Você pensa que o brasileiro é um povo hospitaleiro, feito de pessoas alegres, com aquele malemolejo tupiniquim que só a gente tem, calor no tratamento que nenhum outro povo possui, com muito carnaval e samba no pé para os estrangeiros acharem nosso país o melhor do mundo? Então você precisa saber como tratamos os refugiados palestinos que aqui estão.
Os palestinos que aqui chegaram não recebem orientação, não possuem assistência médica e são enxotados para onde a ACNUR (Alto Comissariado da ONU para Refugiados) determina. De preferência pra Mogi das Cruzes, para bem longe deles. Longe de Brasília. Se no Brasil as pessoas são livres, é fato que uns são mais livres que os outros. Os palestinos são renegados a invisibilidade social de pedintes transeuntes. Nem isso. A mendicância é um ato que requer comunicação, o que relega o palestino abaixo da linha da miserabilidade. Os palestinos refugiados nem aulas suficientes de português recebem. São deixados no país assim como se deixa boi no pasto.
O posicionamento do nosso corpo diplomático, que no Itamaraty aprende a diferença dos tipos de talheres e como soltar flatos de modo requintado nas festas regadas a uísque contrabandeado, é absolutamente de omissão. Os nossos diplomatas com seus neurônios aristocráticos devem somente pensar: - Fodam-se! Que se deem* por satisfeitos em não tomarem no Brasil um míssil israelita em suas cabeças piolhentas!
Quem sente na pele o tratamento hospitaleiro brasileiro são os senhores Farouk Mostafa Mansour e Hamdam Abu-Sitta, dois idosos palestinos que não falam português e que gostariam de ficar em Brasília e receberem tratamento médico. Farouk e Hamdam em nada foram atendidos e por isso acamparam em frente a requintada sede brasileira da ACNUR no Lago Sul. Lá, Farouk descobriu que os únicos funcionários que cumprem expediente são o porteiro e o segurança. Aliás, Farouk teve uma grata surpresa ao saber que uma tal sra. Margarida, mais uma meretriz com imunidade diplomática, trabalhava na ACNUR. Margarida jogou sua picape com placa azul sobre a calçada com o intuito de atropelá-lo em sua barraquinha. Hamdam, por sua vez, vive sendo despejado em albergues e lugares para tratamento de senis.
Farouk e Hamdam não estão pedindo nenhum favor, somente que a ACNUR e o Brasil cumpram a Convenção para Refugiados firmada pela ONU em 1951, o Protocolo de 1967 e a lei 9474/94. Mesmo acampados como mendigos e tomando banho e fazendo suas necessidades no Lago Paranoá, embaixo das fuças da vizinhança rica e pomposa do Lago Sul, os velhinhos Farouk e Hamdam continuam sonhando com uma Palestina livre. Continuam invisíveis perambulando pelas ruas de Brasília e comendo frutas do chão.
*"Deem" sem circunflexo. Repare que os nossos diplomatas já usam o novo acordo ortográfico desta primitiva língua (sem trema) portuguesa. Eu, como guerrilheiro, ainda prefiro a gramática da Juliana Paes: http://guerrilheirosdoplanalto.blogspot.com/2008/10/novo-acordo-ortogrfico-by-juliana-paes.html
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