domingo, 14 de outubro de 2007

Ninguém sabe, ninguém quer saber, ninguém se importa

O Senador "vitalício" pelo Rio Grande do Sul, Pedro Simon (PMDB), falou uma coisa que sou obrigado a concordar: "A culpa disso (de tantos escândalos de corrupção) é a impunidade, ninguém é preso, ninguém é processado."

Depois do fim da ditadura, o país bateu recordes de escândalos de corrupção que não deram em praticamente nada. Vou listar os mais conhecidos. Pergunta: digam-me o que aconteceu com os personagens envolvidos? O que acham que vai acontecer com os atuais?

1993 - "Anões do Orçamento". As fraudes em emendas ao orçamento da União cometidas por parlamentares de baixa estatura física e moral culminou na cassassão (3) e na renúncia (3) dos parlamentares envolvidos. Alguém está preso? Alguém se reelegeu?

1997 - Descobriu-se que deputados possuíam verba para compra de votos favoráveis à Emenda que permitia a reeleição em nível federal, estadual e municipal para o executivo. Dois deputados pediram renúncia para escapar da cassassão. Algum deles está preso? Algum deles se reelegeu?

1998 - "Caso Sérgio Naya". À época deputado pelo PPB (hoje PP), o responsável imediato pela morte de oito pessoas advinda do desmoronamento de uma de suas construções levaram à cassassão do então deputado. Ele deve lamentar muito, pois continua rico e gozando de prestígio político suficiente para favorecer suas empresas (mesmo que devidamente "enlaranjadas").

1999 - Luiz Estevão roubou descaradamente da União, de forma absurda e revoltante ("oficialmente", US$ 10 milhões, fora o que não se sabe). Resultado: foi cassado enquanto senador, mas goza de uma riqueza invejável (para quem não tem escrúpulos), é dono de time de futebol, rádio no DF e demais empreendimentos que facilitam suas lavagens de dinheiro.

2000 - O defunto do ACM e o mau-caráter do "subarbusto rutáceo" (Arruda) violaram o painel do Senado para favorecer o cúmplice Luiz Estevão. Essa não deu certo. Resultado: um gozou até a morte de prestígio, poder e cargo político e o outro atualmente é governador do DF. A cadeia seria pouco para ambos. Como é que pode...

2001 - "Caso Sudam". O principal envolvido no escândalo de desvio de verbas e demais corruptelas era o então presidente do Senado e mal-caráter Jader Barbalho (PMDB-PA). Ele se licenciou da presidência e depois renunciou para evitar a cassassão. Continua rico e ao que parece bem.

2005 - "Mensalão". Vamos aguardar, porque as coisas ainda estão sendo apuradas, mas provavelmente ninguém será preso ou perderá para sempre seus direitos e regalias políticas (o que seria o mínimo).

2005 - O "mensalinho" pago pelo então presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) resultou na renúncia do pedófilo. Na verdade, para quem não sabe, sua renúncia foi acordada com o PT, que em troca destituiu o Ministro das Cidades Olívio Dutra e colocou no cargo o ignóbil Márcio Fortes (PP-PR), à pedido do partido de Severino, para que este renunciasse. Em tempo: o Ministério das Cidades é aquele que possui uma das maiores verbas do atual Governo. Ficou tudo em "casa", portanto.

2006 - A venda superfaturada de ambulâncias culminou no indiciamento de 69 parlamentares e de três senadores. Resultado: dois deputados renunciaram para evitar a cassassão, os senadores e mais oito deputados foram absolvidos, quatro deputados foram condenados mas se livraram devido ao término da legislatura e os outros 55 deputados sequer foram julgados e o processo foi arquivado. Ou seja, não aconteceu nada e muitos deles continuarão por aí, aplicando seus golpes.

2006 - O deputado petista e mineiro Juvenil Alves foi acusado e preso devido a um esquema internacional de sonegação fiscal. Mesmo assim ele abandonou o partido e assumiu o mandato e seu processo irá se arrastar infinitamente na justiça. Mais um que deveria estar preso, mas é deputado.

2007 - Responsável por esquemas de grilagem, falsificação de escrituras em cartórios e corrupção de funcionários públicos em Mato Grosso, o senador sem-pudor Jayme Campos (DEM-MT) também se encontra sob acusação. Mais uma que não dará em nada. E o fascínora segue senador.

2007 - "Operação Navalha". Fraudes em licitações, favorecimentos à empreiteiras, desvio de verbas públicas e "otras cositas más" ainda não foram suficientes para esquartejar os deputados Olavo Calheiros (PMDB-AL, aliás, parente de quem mesmo?), Maurício Quintella (PR-AL) e Paulo Magalhães (DEM-BA, parente de quem este também?). Outros que ficarão cada vez mais impunes e ricos, junto com toda a corja que os sustenta.

2007 - Ray-Ban Calheiros (PMDB-AL) nos brinda com o mais recente caso de indignação nacional. Já não foi cassado, e seguramente continuará impune e rico, além de poder se masturbar com as fotos da ex e infiel mulher publicadas na Playboy, que custa menos de 10 reais (uma bagatela, perto do montante que ele roubou).

2007 - O pedófilo do Joaquim Roriz (PMDB-DF) renunciou ao Senado para não ser cassado, devido ao defloramento público de "uminha" de suas maracutaias. Nas próximas eleições ele IRÁ se reeleger, podem apostar, e tudo isso será esquecido, como de praxe.

Se vivêssemos em um país sério, qualquer parlamentar envolvido em escândalos de corrupção deveria ter seus direitos políticos cassados pelo resto de sua vida, além de cumprir pena em regime fechado pelo tempo determinado pela justiça. Mas nada disso acontece. Eles continuam ricos, poderosos e invariavelmente permanecem no poder de direito. Até quando?

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