domingo, 28 de setembro de 2008

Profunda hipocrisia


No Brasil não é tão difícil ser universitário. É mais difícil cursar uma boa universidade. Para piorar a situação, inclusive daqueles que cursam boas universidades, a Educação não é assim tão valorizada por aqui. Estes e outros fatores menos importantes criam um interessante "mercado acadêmico", por assim dizer.


A coisa funciona mais ou menos assim: estudantes intelectualmente incapazes entram com facilidade em universidades brasileiras. Nas notórias caça-niqueis particulares não entendo porque ainda insistem em forçar "vestibulares", realizando provas de desenho, ou de redação, o que, convenhamos, dá no mesmo. Certa vez, um amigo foi numa dessas se informar sobre sua colocação, pois ele tinha conseguido a façanha de ficar na lista de espera. Não precisou esperar muito: saiu de lá matriculado, com menos 500 pratas no bolso e com a cara pintada (de palhaço).


Pois estudantes como esse meu amigo, além de outros tantos também nas universidades públicas, conseguem enrolar durante o curso todo, mas na reta final, quando são obrigados a apresentar um trabalho de conclusão... Nesse momento a consiência (ou inconsciência) cobra a sua conta, e os paralisa! Não conseguem escrever e sequer admitir que não o conseguem: inventam doenças, dramas existenciais.. enfim.. a demanda está criada e como tal, gera uma oferta, rapidamente preenchida por certos tipos, como professores pé- rapados, aposentados ou não, formandos e formados pé-rapados, bolsistas de pós-graduação pé-rapados (não confundi-los com a maioria da espécie, filhos pródigos de nossa sociedade), assim por diante.


Esse interessante mercado (que supre carências intelectuais, financeiras e ajuda a mascarar a imoralidade do Estado, conivente com a má educação desde nossa alfabetização e vendido aos interesses empresariais do setor) foi recentemente ameaçado pelo Projeto de Lei (PL) 3934/08, de "autoria" (hahaha, não me façam rir) do deputado Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB), que prevê, dentre outras coisas, reclusão de um a três anos para quem produzir, elaborar, ratificar, etc, etc, qualquer modificação em trabalhos acadêmicos de outrem.


Todos sabemos que pareceres e estudos que os deputados assinam como autores são feitos pelos consultores da Câmara. Por isso, sugiro ao nobre deputado que coloque profundamente seu PL e sua hipocrisia no seu sobrenome e que da próxima vez me procure quando quiser formular novos PL's. Além de escrever melhor que seu assessor, seguramente custarei mais barato para os cofres públicos.

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