terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Conheça o final da novela "A Favorita" (ou, "Descortinando A Favorita")


Peço licença aos leitores habituais. Este post se destina preferencialmente a você que perde seu tempo procurando notícias na internet sobre assuntos como a novela A Favorita. Inclusive, escrevi este título pensando na possibilidade você nos encontrar no google. Bem, vou aproveitar sua nobre audiência para comentar sobre esta extraordinária trama.


A novela, que teve a pior média de audiência da década dentre as estréias, virou o jogo e agora bate recordes de audiência por ter conseguido "revolucionar a linguagem da teledramarturgia nacional"*. Insatisfeitos com os índices negativos, a direção do núcleo apertou o jovem autor João Emanuel Caneiro para inventar alguma coisa. Entediado e sem saber o que fazer, provavelmente João acendeu um** antes de se atirar no sofá para rever seus dvd's de Lost. Eureca! Habemus revolutione!


Mas o metodólogo Thomas Kunh não concordaria com isso. Para ele, a revolução é como uma "quebra de paradigmas". Então, não teve revolução nenhuma, porque não teve "quebra de paradigmas". Nesses termos, parece que o aperto da direção do núcleo foi maior, "sugerindo" ao autor a retomada do velho e pérfido discurso moralista cristão, tão ao gosto da população média brasileira quando devidamente transfigurado em "temas polêmicos" que se propõe estabelecer um debate mais profundo dentro da sociedade nacional.


Ah, façam-me o favor! Orlandinho, o gay, sofre um verdadeiro processo de "cura" a partir de sua "natural", pois que não desejada - portanto "orgânica", "natural", "normal" - masculinização. Aliás, algo que não por acaso lhe causa pressões e sofrimentos psicológicos terríveis. Stela, a versão homoafetiva feminina da trama pretende a imagem da mulher cool, bem-resolvida e independente, mas no fundo se trata de uma solteirona infeliz, melancólica e, não por acaso, perseguida pelo pensamento machista herdado de nossa matriz patriarcal rural que, como se percebe, falsamente se pretende criticar na trama. Surpresa por surpresa, se no final Catarina resolver se acertar com Stela, não se supreenda se a paixão entre elas não se consumar em um ardente "beijo de novela". Jamais apareceu um beijo de língua homoafetivo numa novela da Globo.


Exagero meu? E quanto à Dedina, a mulher adúltera? O que mais esperar de tal comportamento senão um final infeliz? Aliás, bota infeliz nisso: literalmente, fizeram a mulher definhar até a morte. Em seu agonizante e desproporcional fim, ela se arrepende e pede perdão tanto ao marido, quanto ao amante!!! Lembram o que ela disse antes da agonia final? " Desculpem por eu ter arruinado a vida de vocês"!!!


Político que se arrepende, confessa seus crimes e vai com gosto para cadeia, depois que o meliante com quem acabara de negociar armas acerta por acaso sua filha na rua , só na televisão mesmo. Naturalmente, Taís Araújo não morreu, mesmo porque, ao contrário de Juliana Paes (assasinada no início da trama), não pretendia um papel maior na próxima novela das oito (ou não foi capaz de consegui-lo). A "surpresa" foi o colarinho branco da vez ser negro. Mas as inversões são totalmente propositais, e não "naturais", como realmente devia valer. Vide a angelical vilã Flora e a rude heroína Donatela. Como se não bastasse, a fugitiva da polícia (Diva/Rosana) também prefere os braços da lei e da "justiça" brasileira ao invés da monótona vida bucólica da qual desdenhou.


E o tema do incesto? Já imaginou? Se imaginou, foi por pouco tempo, pois o mistério acerca de tema tão cristão não podia durar muito, e tudo foi rapidamente "esclarecido": "Harley Mateus" nunca foi irmão de "Lara Fontini"! Assim como você nunca será livre. Portanto, pare de perder seu tempo com novelas e blogs inúteis. E poupe-me deste seu fugaz interesse: até parece que você, lá no fundo, já não sabe qual será o final.


* Fonte: qualquer jornaleco brasileiro disponível online.

** A inspiração cannabica aparece representada em personagens como o alterego raul-seixasiano Augusto César, bisonhamente interpretado por José Mayer.

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