domingo, 8 de março de 2009

A Igreja Católica é uma piada... e de mal gosto

Ela é apenas uma criança. De nove anos. Pesa 33 kg e mede 1,36 m. Vive em Alagoinha, a 230 km de Recife. Lá, era estuprada desde os seis pelo padrasto. Ficou grávida de gêmeos. Os médicos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) constataram que a vida dela corria perigo e retiraram os fetos, interrompendo a gravidez na 15ª semana. Após o aborto, na quarta-feira, “ela ficou brincando com a boneca e o ursinho. Não sei se entende o que passou” – disse o diretor da Maternidade, Sérgio Cabral.

Quem, com certeza não entendeu nada, foi o já aposentado arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, de 75 anos. Ele tentou convencer o pai biológico e a mãe da menina a desistirem do aborto. Fracassou. A Arquidiocese decidiu, então, que vai denunciar os pais da vítima ao Ministério Público, acusando-os de duplo assassinato. Sem chances, porque a legislação brasileira permite o aborto em vítimas de estupro até a 20ª semana de gestação e também no caso de ameaça à vida da mãe. De acordo com avaliação médica, o aborto é, portanto, duplamente legal.

O bispo, no entanto, está se lixando para as leis dos homens: “A lei de Deus está acima de todas as coisas e o aborto é um crime previsto nas leis de Deus”, diz, citando o Código Canônico, que em seu artigo 1.398 pune os que praticam o aborto com a excomunhão. Omite que não foi Deus, mas os homens que escreveram o Código e excomungou todos os adultos que participaram da operação: os pais da menina, os médicos, o motorista da ambulância, o transportador da maca, as atendentes, os enfermeiros que esterilizaram os instrumentos cirúrgicos, as representantes de ongs em defesa da mulher, enfim todo mundo, menos o pedófilo e estuprador do padastro: “Esse padrasto cometeu um crime enorme – admitiu – mas não está incluído na excomunhão. Ele cometeu um pecado gravíssimo. Agora, mais grave do que isso, sabe o que é? O aborto, eliminar uma vida inocente”, explicou.

A excomunhão, que é a pena máxima da igreja, condena ao fogo do inferno pessoas misericordiosas, que tiveram compaixão com o sofrimento dos outros, poupa o estuprador.

Para mim, que detesto grandes altitudes, ser excomungado significaria o mesmo que receber uma carta da NASA informando-me que não me aceitam como astronauta. Mas, e para aqueles aculturados nas tradições cristãs e católicas? A religião, que deveria servir de consolo, neste caso consegue produzir mais sofrimento, no mínimo psicológico, para as vítimas e para aqueles que lhe estenderam a mão.

É um absurdo. Revolta mais saber que o caso não é isolado. O bispo pernambucano apenas seguiu a tradicional cartilha de Roma, ultrapassada, inquisitorial, que luta contra a modernidade dos tempos, o bom senso e tudo aquilo que tomamos como Justiça dos homens e dos Deuses.

*Agradeço ao texto de José R. B. Freire "A menina, o bispo e nós" pelos fatos expostos. Seguimos lutando por um mundo de consciências mais livres!

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